Eu realmente não sei há quantos dias estou dentro dessa caverna ou há quantos dias estou adormecida. Eu me deitei no rio novamente, deixei que a água gelada aliviasse a dor, quando acordei, minha pele já estava completamente curada, não havia mais sinais de queimaduras. A correnteza do rio levou embora os pedaços de tecido grudados em minha pele, agora me visto apenas com maltrapilhos, os restos da roupa já decadente que usava.
Eu não lembro quando foi a última vez que troquei de roupas, eu estava usando um vestido que eu acredito que era azul, agora está tão imundo que está completamente preto, nem mesmo a água do rio tratou de lavar essa sujeira. Eu acho que esse vestido estava entre as roupas que levei embora quando fugi de minha casa, se me lembro bem, era a última moda em 1812, foi um presente de... alguém especial, não lembro quem era. Mas foi por isso que eu trouxe.
Em que anos estamos? Eu escrevo diários há 72588 dias, mas... eu estou certa de que houve dias e dias, talvez até mesmo anos, que me mantive adormecida.
Eu preciso sair dessa caverna, eu preciso saber onde estou. Mas essa caverna parece segura, mais segura que minha velha cabana, o sol não me alcança aqui. Essa caverna será meu novo esconderijo.
E o anjo... eu quero vê-lo de novo. Como se chama por anjos? Quando eu era mortal, estive em muitas aulas da escola dominical, eu acho que consigo me lembrar de algumas rezas. Será que eu consigo chamá-lo se rezar? Será que um anjo atenderia o chamado de um monstro como eu?
Eu tenho muitas dúvidas, mas primeiro, vou sair daqui.